10/05/2015

CONTRA O PODER DO BISTURI

Para refletirmos nesse dia das mães:
 
Foto de Tatiana Druck. Não que eu tivesse torcendo por alguma complicação, benzadeus! Mas confesso: também me surpreendi com a rapidez do parto da princesinha da Kate (“Kate”..., sorry, a celebridade é uma merda). Pois então. A duquesa deu um pulinho ali no hospital, pariu, e dez horas depois já estava em casa. Assim. Como quem vai tomar chá com as amigas, ou comprar meias no shopping.

Achei o máximo. Na verdade, invejei. Eu que tive duas cesarianas e que sonhava em caminhar e sorrir após o parto (em vez de incorporar aquela cara de “tudo bem, vai passar” para visitas, e agonizar as dores e limitações de uma cirurgia abdominal), me senti a gata borralheira esfregando o chão, enquanto ela, a diva parideira, deu a luz rapidinho e ainda saiu da maternidade de braços dados com um príncipe! Assim surreal.

Foi aí que esse tema voltou a me ocupar a cabeça.

Temos que rever nossos conceitos com urgência. Nós, as plebeias brasileiras sem títulos da coroa. A realeza é que sabe viver glamourosamente como bicho. Consegue parir fácil como qualquer animal faz. E fica logo pronta pra cuidar, amamentar e curtir seu filhote.

É claro que nem sempre é possível optar pelo parto normal. A OMS informa que 15% dos casos exigem intervenção. Eu mesma tive meu primeiro filho de urgência e prematuro (já minha segunda cesárea foi eletiva, e até hoje me culpo por não ter ido contra as “indicações” – quase sempre discutíveis - que recebi).

Sabemos que na maioria das vezes cesariana é uma escolha. Uma opção conveniente aos médicos, que organizam sua agenda e poupam tempo. Conveniente aos hospitais, que otimizam leitos. Conveniente às mães, que evitam a temida dor e o risco de sair esbaforida (sabe-se lá quando) com a sacola na mão e a bolsa rompida. Não são razões suficientemente nobres, vamos convir. Mas são as que nos movem.

Revisei as estatísticas: o Brasil segue o campeão mundial de cesarianas. Um quadro crescente e chocante. Aqui, 56% dos bebês nascem pelo poder do bisturi (84%, na rede privada de saúde!). A média mundial é de apenas 18%.

Vamos questionar essa cultura do avesso, desfazer mitos, exigir a informação que está nas mãos de poucos. Refletir e posicionar-nos com firmeza. Encorajarmo-nos. Vamos tratar com mais normalidade o que é por definição normal: a procriação.

Estamos falando de intervenção desnecessária, com todos os riscos inerentes: anestesia, infecção, hemorragia, cicatrização, pós-cirúrgico. Há 10 vezes mais mortes maternas. Poucos sabem, mas numa cesariana cortam-se sete (sete!) camadas de tecido até chegar ao bebê (para quem se interessar: pele, gordura, aponeurose, músculo, peritônio parietal, peritônio visceral e útero). Mexa-se, com um buraco desses.

Por fim, é cientificamente comprovado (e não há polêmica sobre isso) que o parto normal é mais saudável para a criança (orgânica e emocionalmente falando): elimina líquidos do pulmão, produz corticoide, favorece a amamentação. Já deveria ser o suficiente para decidir, não?

Assim, você que está em tempo de optar: pense nisso. Que tal ser normal como uma duquesa?
 

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