06/08/2015

EM CRISE DA CRISE



Ando cheia de ouvir (e de falar) mal da crise no Brasil. Já basta ter que respirá-la todo dia. Entrei numa ressaca moral, sabe assim? Um cansaço, uma repugna, quase aversão - tipo quando uma pessoa muito chata vem vindo em sua direção pela mesma calçada: “aaai, nãão, lá vem a crise!”.

Nesta semana uma amiga do Facebook anunciou que deixaria para o noticiário a tarefa de divulgar os fatos decepcionantes do cotidiano e postaria somente coisas boas: ela fala de sorrisos dados, gentilezas presenciadas, de investimentos ocorridos no país, de novos negócios inaugurados com otimismo. Achei lindo passear por sua timeline - parece uma rua ladrilhada com pedrinhas de brilhante.

Daí li a coluna do Nizan Guanaes e também gostei de saber que ele se empenha diariamente para manter a motivação (própria e de sua equipe) através do otimismo: “Nessas horas precisamos de Silvio Santos e Faustão em nossas organizações. Temos de ser verdadeiros animadores. Espalho mensagens anticrise até nos banheiros. Celebro cada miniconquista. Porque senão a gente fica todo dia celebrando a crise”, conclui. E cita o recente episódio do ataque do tubarão: “se o surfista tivesse se desesperado, tinha morrido. Ele foi lá e bateu no tubarão.” E assim Nizan inicia sua jornada: “Bom dia, crise. Vamos à luta. Vamos pra cima do tubarão.”

Então me lembrei de um livro de autoajuda para salvar casamento (não deu certo pra mim, kkk, mas pode funcionar nesse caso). Dizia algo assim: quando um casal se reencontra no lar e pergunta “como foi seu dia?”, há dois caminhos. Ou você menciona tudo que deu errado (é o que comumente acontece) e instaura aquele climão, ou você valoriza o que houve de produtivo (sempre há) e contribui para a leveza do ar.

Acho que a dica vale pra tudo na vida. A velha fórmula de ver a parte cheia do copo. De pensar positivo. De emanar e atrair energias boas.

Não se trata de tapar o sol com a peneira, de polianar ou viver no mundo do faz de conta – nem seria possível, sentimos a crise na carne todo dia, eu, você, e a vó do badanha. Basta apertar o interruptor de luz ao acordar que a crise se acenderá (literalmente) e ficará ali, alumiando sua cabeça com aquele reajuste tarifário de 39,5%.

Aí você, forte que é, apaga a luz e sai de casa cantarolando Bob Marley every little thing is gonna be alright e parece que a crise some. Então entra no supermercado e tcharan! se encontra com ela de novo – e não adianta mudar de corredor porque a crise estará em todas as gôndolas do comércio. Toda$.

Tampouco se trata de alienação, Deus me livre, só acredito no poder da mudança através da consciência e da atitude (tá, confesso: creio num pouquinho na sorte também). Mas não é isso.

Falo de encontrar jeitos positivos e práticos de se relacionar com a crise. De gastar mais fósforo buscando soluções (dizem que na adversidade há sempre grandes oportunidades) do que apenas reclamando. De criar. De usar a rede social para mobilizar ações concretas (passeatas, abaixo-assinados, crowdfunding) e não só para gerar raiva e descrença. De aportar ideias, refletir. Estimular a confiança abrindo brechas no muro das impossibilidades.
Ninguém consegue sorrir com desânimo.

Trata-se, no fim das contas, de acreditar na luz no fim do túnel. Procurá-la com afinco e ainda mostrar aos outros onde ela está.

A luz no fim do túnel nunca será sobretaxada pela inflação e, se depender do seu bom olhar, permanecerá acesa. Porque essa luz se chama Esperança - e a esperança, você sabe, é sempre a última que apaga.

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