Quem
não viu nosso Gaúcho Laçador com sua prancha de surf sob o braço, pedindo
carona para a praia de Cidreira ontem pela manhã, é porque não acordou cedo.
Nesse
frio de ranguear cusco, o guasca levantou com as galinhas, preparou seu mate,
picou o fumo de corda, ordenhou a vaca e antes das seis da matina já tava devidamente
pilchado pra se lançar nas ondas da ironia fina. E sem essa de roupa de neoprene.
Ele ia de tirador e guaiaca, que é assim que se defende o taura macho, chê.
Foi
a fiscalização da EPTC que melou a banda do coitado. Pra essas coisas o serviço
é rápido. Arrancaram sem dó a planonda do vivente. O Coordenador da Memória
Cultural da Secretaria de Cultura de Porto Alegre viu o ato como uma
intervenção urbana pacífica - entendeu bem. Já o Prefeito, com menos espírito
esportivo, não gostou, lamentando o risco de danificar o monumento. Ok, cada um no seu papel.
Mas
antes que você também ponha em riste seu dedo julgador, saiba que a prancha era
de isopor e a manobra foi cuidadosamente engendrada por gente atenta e responsável
– o pessoal do Surfari - que vive, respira e ama o que faz. Meu filho estava na
equipe. Eu não sabia. Nem sempre se sabe o que os filhos fazem na rua durante a
madrugada. Mas festejo que entre tantas opções desprezíveis, o meu esteja
comprometido com a arte, a atitude, a alegria. Ainda que de forma assim subversiva.
Os
líderes da ação, Duda Linhares e Lucas Zuch, depois de pedirem desculpas ao
Prefeito, explicaram: a ideia era aproveitar o espírito da Semana Farroupilha para
enfatizar a pluralidade da cultura gaúcha e divulgar a curiosa modalidade de “Surfe
Criollo”, em que o surfista é puxado por um cavalo à beira de um açude (veja
aqui: http://www.surfari.me/el-surf-criollo/).
Com
isso eles também salientaram a interessante paridade entre o ginete e o
surfista (ambos estão em contato com a natureza e em superfícies instáveis) e entre
o campo e o mar (a linha do horizonte, a plenitude, a noção de grandeza – dão ao
homem o seu devido tamanho e uma lição de humildade todo dia). E por fim, os
rapazes confessaram sua felicidade: em meio a tantas notícias ruins, o
monumento do Laçador Surfista fez muita gente dar risada.
Tamojunto,
bagual!
Não
que eu seja praticante ou super fã do surf. Admiro-o como esporte e respeito a
filosofia que o embala: a liberdade, o respeito à natureza, o equilíbrio, a fraternidade. Minha ligação com o surf vai até aí, na
rebentação. Mas prezo a liberdade acima de tudo, sobretudo a de expressão. Por
isso estou aplaudindo com pés e mãos essa intervenção cultural tão criativa e
irreverente.
Digo
e repito: desconfio que por trás de movimentos de rebeldia há sempre uma ânsia
revolucionária de paz. Então ‘mostremos valor, constância / nesta ímpia e
injusta guerra’ e que ‘sirvam nossas façanhas / de modelo a toda terra’.
Mas
bah.
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